E, para quem quer compreender a alma de um ator, lá vai esse poema. Dizem ter sido escrito pelo próprio Dioniso – o mortal que responde por ele teria apenas psicografado. Sei lá se é verdade. Warde Marx
ATOR
Atormentado, atordoado
tento atuar à tona,
e atuo à toda.
Aturdindo,
atua a dor tardia.
Dor doada,
adotada,
dada,
Dadá.
Nada.
De tanto tentar,
domei em mim,
“in totum”,
o Eu e o Tu.
Agora,
atua à toa
a dor do dom
de atuar.
Ator atura
de atuar
a dor do dom.
Criatura,
criador de criaturas,
enfrento deuses,
desposo estrelas,
enfio as mãos nuas
no lodo da alma humana.
Ator/Atriz
Eu sou!
Bufão que se agita e pavoneia
durante uma hora sobre o palco,
mostrando a vida cheia de som e fúria,
significando nada
– que já não saiba teu coração.
Tu me dizes, “tens o dom”.
Pois eu, soldado fanfarrão,
herói, anti-herói, vilão,digo:
ator é quem atura,
a dor desse dom.
Ser ou não ser, eis a questão.
Teatro são duas tábuas e uma paixão.
Amém.