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15/01/2008

ufa!

acabo de terminar de escrever uma peça. ainda não sei o nome, isso virá no decorrer da encenação. é o texto da montagem de formatura do núcleo 38 da fundação das artes.

agora que a turma atingiu sua configuração definitiva (com entradas e saídas de gentes que tinham e não tinham a ver com o momento desse trabalho), o processo tem sido muito bom. tem poucas coisas mais legais que fazer teatro com quem QUER fazer teatro. a gente tem tido uma sintonia beeem afinada - daí, a coisa rende.

ainda não sei o que dizer do texto. ficou bem redondo, mais até do que eu mesmo achava que ficaria. por diversas vezes pensei que ele teria que ser ajustado pela encenação. ainda bem que a coisa rolou e, dias antes do prazo a que nos propusemos, o texto ficou pronto. costumo dizer que tenho uma musa inspiradora, que faz com que os trabalhos de criação saim de qualquer maneira e não atrasem nenhuma produção ou compromisso: o nome dela é prazo. comprometo-me a, um dia, falar mais a seu respeito.

estou escrevendo esse textículo para registrar o prazeroso alívio que dá concluir um trabalho de criação. claro que texto é texto, espetáculo é espetáculo; só dioniso sabe como minha pobres frases e falas vão ser muito mexidas e enriquecidas com a colaboração do núcleo com que estou trabalhando e do coletivo de encenação, meus parceiros melissa aguiar e sérgio azevedo.

enfim, o ensaio que se iniciará dentro de hora e meia vai correr com ainda mais energia. a mim, resta a gostosa sensação de prazer cumprido.

03/01/2008

parece tããão fácil...



fico impressionado como as pessoas nunca imaginam que um professor possa ter tido algum problema escolar. especialmente (hoje sei disso...) um professor de teatro.

ele sempre leu todos os livros, viu todos os espetáculos, ganhou todos os prêmios;
sempre foi protagonista, nunca teve um branco ou dor de barriga ou afonia;
nunca atrasou ou esqueceu ou teve um problema: seja doença (sua ou na família), desemprego, fome, sono, cansaço, dureza, desamor, depressão ou outro qualquer.
e sempre teve ótimos professores, que nunca erraram e sempre lhe deram todas as explicações requeridas e os papéis em que ele poderia render mais e que eram, exatamente – veja que coincidência! –, os que ele mais queria e gostava mesmo.
e, como sempre foi genial, forte e invencível, como conseqüência natural o teatro curvou-se a ele.

nada mais longe da verdade.

tudo o que aprendi foi que essa coisa de teatro é pesada e forte e dura e não dá agradinhos, nem poupa ninguém.
mexe com algumas coisas que doeriam menos se ficassem quietinhas, lá no fundo da gente. nos expõe além do que seria razoável a um ser humano normal. faz exigências às vezes cruéis, outras ridículas.
todo o tempo que eu tenho no teatro só serviu pra eu ter a mais profunda certeza de que nada nem ninguém nos prepara para o que o teatro poderá exigir da gente.
ele sempre parece encontrar uma provação maior que aquela para a qual nós nos aprontamos.
e a verdade - sem nenhum enfeite - é que no momento em que é dada a incumbência, alguns de nós dão conta, outros não. por maior que seja a vontade que todos tenhamos.
é que não era o momento; o tempo de preparo não fora atingido.
e a pessoa pode ter um ou dez ou trinta anos de teatro, não importa - às vezes conseguimos, às vezes não.

e - atenção, que isso é o que importa, mesmo, em teatro - sua capacidade não será medida pelo fato de ter conseguido algo da primeira vez, mas pela sua persistência em superar-se até conseguir.
até porque, sabemos todos, acertar de primeira, pode ter sido sorte - e o teatro não pode se dar ao luxo de contar com a sorte.

interrompo - não termino! - aqui a reflexão, feita para que você, leitor, tivesse uma idéia do que está por trás das coisas que penso, digo, faço e das decisões que tomo. sim, pois é preciso decidir coisas.
e assumir a decisão, justificá-la, sustentá-la diante de outros pontos de vista. confesso que seria muito, incrivelmente mais fácil tomar a decisão que me deixaria bem com todos, bonito aos olhos do mundo. mas meu compromisso, faz muito tempo, é com o teatro.

ele me deu tudo o que tenho; é preciso que eu o respeite.

voltarei ao assunto... sei lá... um dia.

(a foto é da montagem de fica comigo esta noite, de flávio de souza, direção de sérgio de azevedo e deste locutor que vos fala)